Like or Nope?: eis a questão

Tempo de leitura: 55 minutos

por Caio Felipe Mourão[1]

Imagem: Gabriel Silveira – gabrielsilveira.com

Resumo

Este artigo fala de uma pesquisa que fiz, montando um perfil em um aplicativo de relacionamentos muito famoso no Brasil, e colocando nele 6 fotos minhas sem camisa. Eu queria testar a minha popularidade entre homens e mulheres do aplicativo, o que foi medido através da quantidade e da “qualidade” das “curtidas” que recebi. Interessava-me também comparar o aspecto físico dessas pessoas com o meu, tentando identificar similaridades estéticas. As perguntas que me moveram foram: O fato de eu me colocar propositadamente como um fetiche de homens e mulheres abalaria a minha masculinidade? Eu me sentiria efeminado ou menos viril por isso? Haveria uma diferença quantitativa dos gêneros que me dariam like? Eu me interessaria por mais homens ou mulheres que me “curtiram”? As mulheres se permitiriam “curtir”, e talvez se relacionar com um “homem-objeto”?

Para responder às supracitadas questões, recorri a uma metodologia valorativa, que utiliza sobretudo ferramentas do método etnográfico, em um modelo proposto por Timothy Rice denominado “Subject Centered Ethnography”. Esse método é composto por três eixos analíticos: o tempo (a história que influencia a experiência), o local (o espaço socialmente construído onde ocorre a experiência) e a metáfora (conceitos e aspectos valorativos associados à prática performativa) (Rice 2003). A coleta de dados foi feita em duas viagens de passeio que fiz, uma para Florianópolis e outra para Salvador, de janeiro a março de 2021. Baseei-me na obra A história da sexualidade, de Michel Foucault, como arcabouço teórico norteador de minhas análises, especialmente em seus volumes 2 (2014b) e 3 (2014a). Nessas obras, Foucault traz “uma” história dos relacionamentos amorosos envolvendo homens e mulheres na cultura ocidental, indo dos séculos VI antes de cristo, ao início da Idade Média, focando-se especialmente na tradição grega e romana. O autor analisa também a prática da pederastia grega, ou seja, relacionamentos amorosos envolvendo um homem mais velho e estável financeiramente (erasta), e um jovem e ingênuo rapaz, normalmente atraente e de porte físico atlético (erômeno).  

Em relação aos dados coletados nesse recorte empírico, observei que de todas as pessoas que me “curtiram” 87% eram homens e só 13% mulheres. Nenhuma pessoa trans me “curtiu”, e se o fez não disse que era trans. Apesar de ter recebido muito mais likes de homens do que de mulheres, surpreendi-me ao constatar que fui mais atraído fisicamente por elas do que por eles proporcionalmente falando. Um dos possíveis motivos tem a ver com a “lógica da quantidade masculina”, significando a motivação dada a eles, na cultura ocidental, para exercitarem seu poder de conquista, lógica essa inclusive reforçada pela prática da pederastia grega (2014b, 2691). De igual maneira, a “virilidade” também pode ter desempenhado um importante papel para esse comportamento masculino “quantitativo”, pois aos homens greco-romanos estavam destinadas as atividades públicas, onde eles podiam exercitar e demonstrar sua capacidade de liderança, seu poder de ação, e dar amostras de sua inteligência, traduzidas muitas vezes em sua habilidade retórica (1050-1051). Em contrapartida, às mulheres estava reservada a vida privada do lar, e a falta de contato com o estudo formal e a socialização (963). Além do mais, mesmo durante o auge do império romano, elas ainda permaneceram por muito tempo submetidas à vontade de seus pais (homens) e maridos – infelizmente não creio que isso tenha mudado muito. Contudo, por incrível que pareça, pelo menos em relação à tradição ocidental, foi no casamento que elas começaram a vislumbrar uma possibilidade de “emancipação”. Isso se deu porque as atividades matrimoniais eram estritamente divididas, cabendo a elas, com já foi dito, o cuidado doméstico. Apesar de parecer pouco, esses cuidados estavam relacionados a uma série de afazeres extremamente especializados, que iam desde a administração dos funcionários e escravos da casa, passando pelo cuidado com a prole e os animais, até a administração das contas domésticas. Criou-se dessa forma uma relação de interdependência entre maridos e esposas, dando a elas um grande poder. Além do mais, seu papel de “esposa” concedia-lhe muito respeito social, e a possibilidade de rompimento do vínculo com o poder paterno. Com o passar do tempo, em determinadas regiões do império romano, por exemplo no Egito, elas já podiam escolher seus maridos, e separar-se deles quando os mesmos não cumprissem devidamente seus contratos matrimoniais (2014a, 1030-1042). Contudo, apesar de tamanho avanço social, elas ainda não podiam – será que já podem? – exercer sua sexualidade da mesma forma que os homens, para não serem taxadas de prostitutas. Dessa forma, quando podiam escolher seus parceiros, precisaram desenvolver uma grande capacidade de análise silenciosa, treinada por meio da observação, ao contrário dos homens, que sempre puderam “pegar geral”, para só depois decidirem com quem gostariam de se casar. Além do mais, era natural a grande diferença de idade entre maridos e esposas, onde eles normalmente eram bem mais velhos que elas. Cabia aos homens a tarefa de instruir as mulheres, “educá-las” (2014b, 2253-2254). O mesmo comportamento também se aplicava na pederastia, onde cabia ao erasta zelar pelo erômeno (2672). Em algumas obras, como a Econômica de Xenofonte, e Tesmophories de Aristófanes, eram prescritas essas funções “pedagógicas” de um homem virtuoso em relação a sua esposa e a seu rapaz (2593-2594). Outro aspecto interessante é que ao homem era permitido, e até mesmo recomendado, que mantivesse um relacionamento com um jovem rapaz, mesmo estando casado, contanto que não o expusesse a situações vexatórias (Id., ibid.). Vale ainda ressaltar a vergonha que o homem sentia, caso tivesse que “devolver sua mulher” ao pai dela – esse era o nome do divórcio. Isso representava fraqueza, incompetência, falta de “virilidade”, e esse comportamento era socialmente considerado “efeminado” (2236). Na prática da pederastia, os “papéis” desempenhados por cada parte eram claramente definidos, onde cabia ao erasta a “atividade”, ou seja, além de sempre ser a pessoa que “penetrava” sexualmente, era o único a prover materialmente. O erômeno era socialmente inferior ao erasta, pois era o “passivo”, o “penetrado”, o “efeminado” (2672). É importante ressaltar que, assim como para as mulheres, o casamento era importante também para os homens, pois dava-lhes respeito social, caso conseguissem mantê-lo, além de muitas vezes torná-los mais ricos, em razão dos dotes recebidos da família da esposa. Conseguir manter o relacionamento com seu rapaz também era socialmente benéfico para o homem, pois, da mesma forma que acontecia com sua esposa, demonstrava que ele era um bom administrador, sábio e prudente (2236).

Em minhas conclusões percebi que recebi muito mais “curtidas” de homens do que de mulheres. Contudo, surpreendi-me, constatando que fui atraído fisicamente por mais mulheres que me deram like do que por homens, proporcionalmente falando. Isso me fez perceber que elas foram mais seletivas do que eles, confirmando minhas suposições baseadas em Foucault, de que elas desenvolveram essa “silenciosa competência seletiva”, devido à repressão sofrida há muitos séculos quanto à sua sexualidade. Apesar dessa maior seletividade feminina, concluí também que todos que me “curtiram” possuíam grande consciência corporal, o que foi demonstrado pela atenção dada por eles ao próprio corpo, com prováveis investimentos em salões de beleza, clínicas de estética e cirurgia plástica, academias de ginástica, roupas etc. Isso tornou possível que “curtissem” um “homem-objeto”, que expõe seu perfil como fetiche, com a finalidade de atrair performativamente a atenção. Assim, para os homens que me deram like, eu continuava a desempenhar o tradicional papel do erômeno, fisicamente atraente, passivo, efeminado, a “presa” ideal a ser “caçada”. Isso, contudo, não abalou de nenhuma forma a minha masculinidade, minha virilidade, pois tratava-se de um “papel” propositadamente performado por mim, uma escolha livre e consciente. Contudo, o mais surpreendente foi constatar que, assim como historicamente os homens fazem, as mulheres se permitiram atrair-se por esse tipo de homem “fetichizado”, subvertendo e rompendo com a tradição ocidental da passividade feminina. Também foi incrível observar que elas permitiram explorar sua própria sexualidade, seus desejos, buscando um relacionamento baseado na objetificação do outro, e não apenas na procura de um parceiro estável, de um marido.

Esse texto se enquadra no campo dos estudos feministas, queer e das masculinidades.

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Foto: Bernardo Rebello

A imagem

A foto acima foi tirada em um ensaio que fiz no final do ano passado. Como todo “biscoiteiro[2]” que se preze precisa do elogio dos outros, resolvi testar a minha popularidade em um pequeno experimento. As perguntas que me moveram foram: O fato de eu me colocar propositadamente como um fetiche de homens e mulheres abalaria a minha masculinidade? Eu me sentiria efeminado ou menos viril por isso? Haveria uma diferença quantitativa dos gêneros que me dariam like? Eu me interessaria por mais homens ou mulheres que me “curtiram”? Será que os homens têm explorado sua sensualidade, especialmente em relação à divulgação do próprio corpo, como “estratégia” de conquista? As mulheres se permitiriam “curtir”, e talvez se relacionar com um “homem-objeto”?  

Com esse intuito, montei um perfil em um aplicativo de relacionamentos muito popular, e essa foi a primeira foto que as pessoas viram quando passaram por ele.

Fase 1: o planejamento

Não bastava montar um perfil em um aplicativo de relacionamentos: eu queria ter um mínimo de controle sobre o que acontecia. Eu precisava acompanhar a evolução da coleta dos dados. Assim, escolhi esse aplicativo por sua quantidade de participantes, o que me possibilitaria ter uma grande amostra. Em segundo lugar, contratei uma versão paga dele, que me permitia saber quem me “curtiu”. Dessa forma, eu poderia saber as características físicas das pessoas, e agrupá-las de acordo com as suas semelhanças. É importante frisar que eu tinha interesse apenas nas características físicas delas. Interessava-me ter uma noção da quantidade de pessoas preocupadas com a aparência do seu corpo que iria me “curtir”. Inicialmente defini dois tipos de perfil: homens e mulheres. Posteriormente os subdividi em: 1) Homens bonitos, 2) homens feios, 3) mulheres bonitas, e 4) mulheres feias. “Feio/a” e “bonito/a”, na minha pesquisa, tinha a ver unicamente com o meu gosto pessoal. Obviamente, por tudo o que eu já disse até aqui, dá para perceber que sou atraído por pessoas que cuidam da aparência do próprio corpo.

Fase 2: o conteúdo

Selecionei 6 fotos de um ensaio que fiz, todas sem camisa, sendo que em 5 delas eu estava de calça comprida, e em uma, de sunga de banho. Meu texto de apresentação era: “Sou um pisciano com ascendente em libra, amante da natureza, da liberdade e da beleza. Bruxo, músico, poeta e professor. Doutorado em gênero e sexualidade. Os sons e as palavras são as ferramentas que traduzem minha alma. Praticante de calistenia. Adoro bater papo, comer e beber bem”. Deixei visíveis a minha idade e a universidade a qual sou vinculado. Além do português, selecionei também os idiomas inglês e espanhol, como idiomas preferidos, para aumentar a quantidade de pessoas alcançadas. A distância máxima da busca estava em 10km e a faixa etária de interesse era de 35 a 48 anos. Procurei não permitir a visualização do meu perfil por pessoas muito jovens, para evitar ser procurado por profissionais do sexo e/ou sugar babies [3]. Detalhe: não deixei minha orientação sexual nem a orientação sexual de interesse visíveis, apesar de ter colocado “heterossexual, gay, queer”, no respectivo campo, e “homem” no campo “gênero”.

Fase 3: o local e o período

Ah! Esqueci de mencionar: estava – e ainda estou – em um relacionamento estável, praticamente casado, e a última coisa que eu queria era expô-lo. Pretendia não correr o risco da pessoa com quem me relaciono saber, através de outras, que o boy dela estava “biscoitando” em aplicativos de relacionamento. Dessa forma, para evitar ao máximo as chances de amigos me virem no aplicativo, resolvi coletar os dados da pesquisa em duas cidades diferentes, onde tínhamos pouquíssimos conhecidos, e, mesmo assim, nenhum usuário provável do aplicativo. As cidades eram Florianópolis e Salvador, e foram escolhidas porque eu já estava com as passagens compradas. Simples assim. Ah! Esqueci de mencionar: eu passava férias em Brasília na época, cidade em que nasci e fui criado. Conheço muita gente lá. Muita gente mesmo!

O período da pesquisa foi de meados de janeiro ao início de março de 2021.

Fase 4: em campo

A primeira cidade que testei minha popularidade foi Floripa. Logo no aeroporto tornei meu perfil visível. Inicialmente deixei minha orientação sexual apenas como “heterossexual”, para ter uma ideia da quantidade, e da “qualidade”, das mulheres que iriam me dar like. No início da noite usei a ferramenta boost, que promete promover meu perfil às pessoas do meu interesse, que naquele momento eram só mulheres heterossexuais. Resultado: em dois dias recebi 12 “curtidas”, sendo que apenas uma me despertou interesse. Nas 24 horas seguintes, sem a utilização do boost, ninguém me “curtiu”. Fiquei pensando no assunto, imaginando o motivo pelo qual eu estava tão pouco popular entre as mulheres.

No dia seguinte fui às configurações do aplicativo, modifiquei meu campo de orientação sexual para “gay”, e fiquei chocado com o resultado: em menos de duas horas, já tinha recebido mais de 20 “curtidas” de homens, sem a necessidade de usar a ferramenta boost. Resolvi acrescentar as opções “queer” e “pansexual” à minha orientação sexual, na tentativa de atingir também mulheres. Resultado: em dois dias, recebi 70 “curtidas”, sendo 4 de mulheres, e 66 de homens. Nenhuma dessas mulheres me interessou, ao contrário dos homens: aproximadamente 20 me interessaram. Não dei match[4] com ninguém, antes que alguém pergunte, pois um dos objetivos da pesquisa era apenas saber quantas e quais pessoas iriam me dar like.  

A outra cidade definida foi Salvador. Mantive minha orientação sexual como “heterossexual, gay, queer” desde a chegada. No final do segundo dia já tinha recebido mais de 50 “curtidas”, sendo a maioria esmagadora delas vinda de homens. Ao término do quinto dia, eu já tinha atingido quase 120 likes, estando os homens sempre à frente, numerica e, aparentemente, esteticamente falando. De acordo com o meu gosto, é claro. Essa também foi a opinião de um amigo para quem mostrei a foto das pessoas que me “curtiram”. Sem que eu nada dissesse, ele afirmou que os homens que tinham me “curtido” eram muito mais “compatíveis” comigo, do ponto de vista estético, dos que as mulheres que me deram like. Ainda segundo ele, dessas 20 mulheres só duas “salvavam”. “Salvar” para ele significava que os nossos corpos eram visualmente “compatíveis”. Ah! Nenhuma pessoa trans me “curtiu”, e se o fez não disse que era trans.

Fase 5: a análise dos dados

Sem muito esforço, percebe-se que a maioria esmagadora de likes recebidos por mim vieram de homens, tanto em Florianópolis quanto em Salvador. Proporcionalmente seria algo em torno de 87% de homens, contra apenas 13% de mulheres. Mas por que essa discrepância? O que levou a uma drástica maior aceitação do meu perfil por parte dos homens? E por que tão poucas mulheres me “curtiram”? Eu não estaria dentro do padrão de beleza procurado por elas? Acho que não foi isso. Creio que a questão seja um pouco mais profunda. Comecemos pela análise do meu corpo.

A análise do corpo e do texto

Rodrigo Santoro, ator. Foto: reprodução

Uma recente pesquisa revelou o padrão de beleza masculino em 12 países[5], sendo o Brasil um deles. De acordo com esse estudo, as celebridades brasileiras mais representativas desse padrão foram Rodrigo Santoro, Bruno Gagliasso e Cauã Reymond. Alguns aspectos podem explicar isso. Primeiramente a diversidade racial: o homem brasileiro desejável é o resultado de misturas étnicas. Em segundo lugar a disparidade social entre ricos e pobres: homens brancos são mais desejados que homens pretos por simbolizarem a riqueza material. Terceiro ponto: traços germânicos e cabelo liso misturados com a pele bronzeada. Isso vale tanto para homens quanto para mulheres. E em quarto lugar corpos musculosos, mas não em exagero.

 Olhando-me no espelho, identifico o meu corpo enquadrado nesse padrão. Essa também é a opinião de muitas pessoas que convivem comigo. Vou aproveitar para fazer um comentário aqui. Não vejo problema em uma pessoa ter o corpo “sarado”, e ser admirada e elogiada por isso. Muito pelo contrário: só quem tem, sabe do trabalho que dá manter um corpo assim. Contudo, na minha opinião, o problema é adotar-se apenas esse modelo de corpo como referencial de beleza, deixando de fora todos os outros. Isso inclusive tem gerado sofrimento em muitos homens, especialmente os mais jovens, quando não conseguem alcançar esse padrão estético[6]. Felizmente há uma movimentação de pessoas lutando pela diversidade da beleza corporal[7].

Oura coisa: na tentativa de tornar-me mais atraente, além de explorar a sensualidade do meu corpo, quis enaltecer a minha intelectualidade através do texto da minha bio[8]. Ao mencionar que sou um “pisciano com ascendente em libra, amante da natureza, da liberdade e da beleza. Bruxo, músico, poeta (…)”, sutilmente informo minhas noções de astrologia, ocultismo, ecologia, bem como estética e arte, reconhecendo-me uma pessoa misteriosa, sensível e exótica. Ao informar que sou “(…) professor. Doutorado em gênero e sexualidade”, quis deixar claro a minha expertise nesse assunto, o que poderia aumentar o meu poder de sedução, e ao mesmo tempo gerar dúvidas quanto à minha sexualidade. Eu queria saber se as mulheres iriam me dar like mesmo sem terem certeza da minha orientação sexual. Com a frase: “Os sons e as palavras são as ferramentas que traduzem minha alma”, eu reforço a minha sensibilidade, elevando-a a um nível bem alto. E por fim, revelo como mantenho a minha forma física, ao dizer que sou “praticante de calistenia”, mas que apesar disso também sei curtir a vida, pois “adoro bater papo, comer e beber bem”.

Contudo, mesmo o meu corpo estando dentro do padrão de beleza masculino brasileiro, e de me descrever como “intelectual-artista-místico-amante-da-natureza-descolado”, apenas 13% das pessoas que se sentiram atraídas por mim foram mulheres. Por que tamanha diferença numérica entre os dois gêneros que manifestaram atração por mim? Uma explicação possível tem a ver com a história da sexualidade ocidental contada por Foucault.  

História da sexualidade

Na obra História da sexualidade, dividida em quatro volumes, o filósofo Michel Foucault levanta algumas hipóteses, através de um rico trabalho historiográfico, sobre as origens do que hoje conhecemos como sexualidade. Em seus volumes dois e três, intitulados respectivamente O uso dos prazeres (2010b) e O cuidado de si (2010a), ele desbrava alguns textos gregos e romanos da antiguidade, à procura de indícios comportamentais herdados por nós em relação ao sexo. Apesar dele mesmo reconhecer que tais textos não representavam a regra de conduta da época, e nem tampouco que a conduta recomendada por eles tivesse sido reproduzida posteriormente por outras sociedades, podemos usá-los como uma possibilidade para nossa análise. Uma boa possibilidade.

O primeiro ponto a ser considerado é que todos os textos foram feitos por homens e para homens. Em todas as passagens em que as mulheres são citadas, elas se encontram em posição de subordinação em relação a eles.  Contudo, a partir de textos como o de Musonius, Hierocles e Xenofonte, indícios de uma “emancipação feminina” são mostrados através da valorização do matrimônio:

A vida matrimonial tinha sido caracterizada por uma repartição dos encargos e dos comportamentos na forma da complementaridade(…), trata-se de uma maneira de viver como casal e de ser apenas um (…). A arte da conjugalidade faz parte integrante da cultura de si (2014a, 2178-2237).

Assim, os homens casados eram considerados mais virtuosos que os solteiros, ao passo que as mulheres viam no casamento uma oportunidade de se emanciparem da tutela dos pais:

Segue-se que o casamento aparece cada vez mais como uma união livremente consentida entre dois parceiros cuja desigualdade se atenua até certo ponto sem, contudo, desaparecer. Parece de fato que, no mundo helenístico, e considerando-se muitas diferenças locais, o status da mulher ganhou em independência com relação ao que era na época clássica — e sobretudo com relação à situação ateniense. Essa modificação relativa se deve, primeiro, ao fato de que a posição do homem-cidadão perdeu uma parte de sua importância política; ela também se deve a um reforço positivo do papel da mulher — de seu papel econômico e de sua independência jurídica. Segundo alguns historiadores, os documentos mostram que a intervenção do pai da mulher se torna cada vez menos decisiva no casamento (…). Mais tarde, no Egito romano sob a lei egípcia, a autoridade do pai sobre a filha casada era contestada por decisões judiciárias estabelecendo que a vontade da mulher era um fator determinante (…). O casamento se conclui cada vez mais nitidamente como um contrato desejado pelos dois cônjuges, que nele se engajam pessoalmente (1030-1042).

Dessa forma, o casamento vai gradativamente libertando a mulher do domínio masculino. Assim, dentro do matrimônio, ela terá a segurança de estar ao lado de um homem com mais recursos materiais e experiência de vida que ela; desempenhará funções exclusivas; terá filhos para compartilhar o seu amor; e finalmente o respeito social, dado apenas às mulheres casadas.

Outro importante reforço consentido ao casamento na Idade Antiga foi a legitimidade dada ao ato sexual entre os esposos. Apesar do sexo ser condenado na maioria dos textos trazidos por Foucault, e a sua busca sendo interpretada como sinal de fraqueza moral, é apenas no casamento que ele torna-se aceitável, especialmente por sua função procriadora (1673). Esse papel do sexo, quase que exclusivamente voltado à perpetuação da espécie, fortaleceu as ideias de reciprocidade e fidelidade conjugal:

Mas ela (a fidelidade conjugal) constituía um ensinamento dado com insistência em certas correntes filosóficas, como no estoicismo tardio; constituía também um comportamento apreciado como manifestação de virtude, de firmeza da alma e de domínio de si. Louvava-se Catão, o Jovem, que, na idade em que decidiu se casar, não havia tido ainda relação com mulher alguma, e, melhor ainda, Lelius, que “em toda a sua longa vida só se aproximou de uma mulher, a primeira e única com quem se casou”.{6} Poder-se-ia voltar ainda mais longe na definição desse modelo de conjugalidade recíproca e fiel. Nicocles, no discurso que lhe atribui Isócrates, mostra toda a importância moral e política que ele dá ao fato de “não ter tido, a partir de seu casamento, relação sexual com outra pessoa a não ser sua mulher”. {7} E na sua cidade ideal, Aristóteles quer que seja considerada como “ação desonrosa” (e isso de “maneira absoluta e sem exceção”) a relação do marido com uma outra mulher ou da esposa com um outro homem (228-235).

A prescrição da reciprocidade entre os esposos ia desde a divisão das tarefas familiares, prescritas em obras como a Econômica de Xenofonte, à comunhão de sentimentos. As cartas de Plínio, Lucano e Tácito trazem várias poesias de amor conjugal, onde o homem se declara à esposa:

A especificidade de uma relação conjugal pessoal, intensa e afetiva, independente do status e da autoridade marital e das responsabilidades da casa, aí aparece claramente; nelas o amor é distinguido cuidadosamente daquilo que é o compartilhar habitual da existência, mesmo se ambos contribuem de modo legítimo para tornar preciosa a presença da esposa e dolorosa a sua ausência (1095-1097).

Em relação à distribuição dos papéis domésticos, ao homem estavam reservadas as atividades exteriores, públicas, ao passo que às mulheres cabiam os cuidados da casa:

A temperança do marido diz respeito a uma arte de governar, de se governar, e de governar uma esposa que é preciso conduzir e respeitar ao mesmo tempo, pois ela é, diante do marido, a dona obediente da casa (2014b, 2253-2254).

Observe que, mesmo ainda sendo governada pelo marido, agora a mulher possui atribuições especificas para o bom funcionamento doméstico. Tais funções são tão específicas, que sua eventual “troca” por parte dos cônjuges  não era bem vista:

Essa “lei” declara belas (kala) “as ocupações para as quais a divindade deu a cada um mais capacidades naturais”: assim é melhor (kallion) para a mulher “permanecer em casa do que passar seu tempo fora”, e menos bom, para o homem, “permanecer em casa do que se ocupar dos trabalhos no exterior”. Modificar essa repartição, passar de uma atividade à outra, é atentar contra esse nomos; é, ao mesmo tempo, ir contra a natureza e abandonar seu lugar: “Se alguém age contrariamente à natureza que a divindade lhe conferiu, deixando, por assim dizer, seu posto (ataktōn), ele não escapa ao olhar dos deuses e é castigado por negligenciar os trabalhos que lhe dizem respeito, e por se ocupar com os de sua mulher” (2014a, 2153-2158).

O homem que possuísse funções domésticas, ou que permitisse que sua mulher ocupasse funções públicas, era mal visto pela sociedade, sendo considerado “não viril”, ou efeminado. Em várias passagens, Foucault enfatiza a discriminação de qualquer traço físico e/ou de personalidade feminina presente em homens. Não é à toa que a prática da pederastia, sempre envolvendo um homem mais experiente e com mais recursos materiais (erasta), e um jovem submisso (erômeno), considerava este último como sendo inferior àquele. Nesses relacionamentos, muito comuns entre os gregos antigos, cabia ao erasta ensinar os mistérios do mundo ao erômeno, bem como cercá-lo de presentes e atenção. Detalhe: a recomendação dessas escrituras era a de que o erômeno fosse sempre o “passivo” nas relações sexuais. Ocupar essa posição simbolizava inferioridade (2014b, 2648). A “passividade” era mal vista em todos os setores da sociedade grega. Um homem virtuoso deveria ser “ativo” em seus afazeres, demonstrando sempre “virilidade”.

O que é afirmado através dessa concepção do domínio como liberdade ativa é o caráter “viril” da temperança. Assim como na casa cabe ao homem comandar, assim como na cidade não é aos escravos, às crianças nem às mulheres que compete exercer o poder, mas aos homens e somente a eles, do mesmo modo cada um deve pôr em obra sobre si mesmo suas qualidades de homem. O domínio de si é uma maneira de ser homem em relação a si próprio, isto é, comandar o que deve ser comandado, obrigar à obediência o que não é capaz de se dirigir por si só, impor os princípios da razão ao que desses princípios é desprovido; em suma, é uma maneira de ser ativo em relação ao que, por natureza, é passivo e que deve permanecê-lo (1145-1149).

Os gregos costumavam registrar em códigos escritos como esses as condutas recomendadas aos homens, para que fossem “fiéis” primeiramente a si mesmos, e depois aos outros. Recomendadas sim, impostas não. Para eles, o essencial dessa “fidelidade” consistia no domínio dos desejos, ou no “domínio de si” (352-354). Dessa forma, condutas virtuosas não estavam restritas a regras ou leis. Muito pelo contrário: quanto maior liberdade de escolha o homem tivesse, e conseguisse “vencer a si mesmo”, mais seria admirado. Assim, esse “regime” de si, essa “dietética”, era detalhadamente exposta em tratados como a Medicina Amiga e Epidemias, ambos de Hipócrates (1339-1368). A lista de afazeres que deveriam ser “medidos” estava dividida em: exercícios físicos, alimentos, bebidas alcóolicas, sono e relações sexuais (1368-1370). Com a prática constante dessa lista, o homem estaria cuidando da saúde do corpo e da alma (1393). Um ponto importante a ser destacado é que não havia hierarquia entre esses itens. Dessa forma, a temperança na alimentação era tão importante quanto o controle do sono, ou do sexo, e como esse “regime” tinha por objetivo evitar qualquer tipo de excesso, até mesmo as práticas desportivas deveriam ser feitas dentro de uma medida ideal. Assim não correr-se-ia o risco de desenvolver-se exageradamente o corpo, acabando por “adormecer a alma enterrada numa musculatura demasiado potente” (1411-1412).

O discóbolo, estátua de Míron.

Apesar disso, os corpos masculinos atléticos eram muito apreciados pelos gregos, especialmente no que diz respeito aos desejos. Inclusive, um dos locais mais frequentados por homens “maduros” à procura de rapazes eram os ginásios: 

(…) o vigor, a resistência, o ardor também faziam parte dessa beleza; e, justamente, era bom que os exercícios, a ginástica, os concursos, a caça viessem reforçá-los garantindo assim que essa graça não desembocasse na lassidão e na efeminização (2730-2732).

Esses tipos de corpos não eram admirados apenas pelos gregos da antiguidade, e ainda hoje são os referenciais da beleza masculina desejada. A grande diferença da Idade Antiga para os dias de hoje é que naquela época as pessoas precisavam ir fisicamente aos locais de “paquera”. Hoje isso não é mais necessário, graças aos aplicativos de relacionamento.

Aplicativos de relacionamento

Analisei alguns perfis de um grande aplicativo de relacionamentos LGBT+, principalmente voltado para homens gays, famoso pela “objetividade” na comunicação dos seus usuários. Essa “assertividade” já pode ser percebida nas fotos: muitas mostram só o corpo da pessoa, ou parte dele, preferencialmente com o mínimo de roupa possível, já que imagens de pessoas nuas são proibidas. Muitas vezes os nomes dos usuários são substituídos por expressões como: “Chupo gostoso”, “Passivinho”, “100% ativo”, “Versátil”, “Mamador” dando pistas de suas preferências sexuais. No perfil dos usuários, podem também aparecer informações sobre sua altura, peso, etnia, porte físico, posição, tribos, relacionamento atual, em busca de, local de encontro, status HIV e último exame.

 Chamo a atenção para o detalhamento da descrição do corpo e dos desejos. No campo “posição” os usuários irão descrever seus “papéis” preferidos na relação sexual. Os mais frequentes são: “ativo”, “passivo” e “versátil”, sendo que este último pode ser subdividido em “versátil ativo” e “versátil passivo”. “Ativo” é aquele que irá penetrar, “passivo” o que será penetrado, e “versátil” aquele que “interpreta” ambos os “papéis”. “Versátil ativo” é quem pode penetrar ou ser penetrado, mas prefere penetrar. “Versátil passivo” é o contrário. Esse aplicativo é tão largamente utilizado para o sexo casual, também chamado por seus participantes de “putaria”, que há os campos “status HIV” e “último exame”. O primeiro informa se a pessoa é HIV positivo ou negativo, e o segundo, a data do último exame de HIV feito por ela. Caso queira, o usuário pode colocar um texto de apresentação, o que normalmente é substituído por mais detalhes dos seus desejos.

O aplicativo em que criei, e divulguei, o meu perfil permite a participação de pessoas de variadas orientações sexuais, sendo o grande “ponto de encontro” de héteros. Aqui a forma de se comunicar é bem diferente da do aplicativo anterior. Os homens gays costumam ser mais “discretos” nesse aplicativo, evitando detalhar seus desejos. Seus rostos normalmente são mostrados nas fotos, apesar de continuar existindo muita ênfase em seus corpos: fotos com pouca roupa continuam sendo frequentes para esse público. Os homens hétero são ainda mais discretos que os homens gays aqui. Além de mostrarem os rostos, evitam exibir seus corpos, preferindo aparecer de roupa. Muitos falam de si e de suas preferências em textos de apresentação, onde são raros os conteúdos de cunho sexual.

As mulheres hétero seguem o padrão de apresentação dos homens de mesma orientação sexual. A grande diferença está no texto, pois é muito frequente aparecerem expressões como: “Não busco nada casual”, “Procuro relacionamento sério”, “Sou cristã”, “Tenho filhos”, “Fora Bolsonaro”. Além disso, suas apresentações costumam conter muito mais informações que as dos homens.

Vou fazer um parêntese aqui, para mencionar uma pesquisa que vi em uma rede social a respeito desse aplicativo. Alguém escreveu[9]: “Qual a experiência de vocês com o Zinder[10]? Algum rolê já deu certo? É pro meu TCC”. Dos quase quatro mil comentários, a maioria esmagadora foi de mulheres. Em seus depoimentos elas narravam histórias com “final feliz”, que terminavam em casamento, filhos, relacionamento estável etc., ou “tragédias”, com expressões do tipo: “Só tem boy lixo”, “Acabei com o meu emocional lá”, “O cara era casado”, “Homem não quer nada sério”. O que me deixou mais impressionado, foi o fato da pesquisa ter ganho tanto engajamento, que a própria pesquisadora parou de interagir em certo momento. A conversa ganhou vida própria, deixando de ser uma pesquisa. Era uma conversa de mulheres, onde elas falavam sobre si.

Fase 6: conclusões

Mas as dúvidas continuam: Por que, de todas as pessoas que me “curtiram”, 87% eram homens e só 13% mulheres? Por que essa discrepância numérica? Bem, na verdade a diferença foi apenas numérica mesmo. “Qualitativamente” os resultados foram equilibrados, sendo que as mulheres ainda ficaram 1% à frente dos homens. Isso quer dizer muita coisa.

Nas duas cidades fui “curtido” por aproximadamente 32 mulheres, sendo que me interessei por 4 delas. Isso equivale a mais ou menos 12% do total. Quanto aos homens, 186 me deram like, e me interessei por 20 deles, o que representa cerca de 11% do total. Ou seja:  proporcionalmente interessei-me por mais mulheres do que por homens que me curtiram. Não sei se aconteceu isso com você, mas eu passei a pesquisa inteira achando o contrário, e só tive noção do que realmente aconteceu depois de fazer contas. Esse é o primeiro ponto que eu gostaria de analisar: a lógica da quantidade.

A lógica da quantidade

Lembra que eu disse que para os gregos a fidelidade conjugal era uma virtude, ao invés de uma imposição? Lembra também que os textos analisados por Foucault não representavam a regra geral do comportamento da sociedade grega da antiguidade? Pois bem. Apesar de parecer que os homens eram sexualmente fiéis às suas esposas, a maioria não era. Os homens fiéis eram uma minoria “virtuosa”, um ideal almejado. Para os homens “comuns” os relacionamentos extra conjugais eram não só aceitos, como considerados normais, principalmente quando envolviam rapazes. A prática da pederastia era extremamente difundida, o que não significava que os pederastas eram homossexuais. Não eram. Como o próprio Foucault diz, eles estavam mais para a bissexualidade (2014b, 2553). Estar casado com uma mulher e ter uma família eram cobranças sociais largamente difundidas. Portanto, o homem aprendeu pela tradição que era normal ele ter vários relacionamentos amorosos, desde que cumprisse seu papel de cidadão.

Eu fico imaginando aquele monte de homens “coroas” na porta dos ginásios, “assoviando” e “dando cantadas” nos lindos rapazes “marombados” – você se recorda que esse era o tipo de beleza desejável? É muito provável que a maioria dessas “cantadas” não resultasse em nenhum relacionamento. O próprio Foucault fala que esses pontos de encontro eram como “caçadas”, onde o erasta (o mais velho) deveria perseguir o erômeno (o rapaz), espreitá-lo (2691). Cresce então uma cultura masculina da sedução, da conquista, do convencimento. Cresce uma cultura masculina  do sexo casual, fortuito. Falemos agora sobre a dinâmica dos relacionamentos amorosos entre homens.

Relacionamentos amorosos entre homens

Da mesma forma que a fidelidade conjugal, o relacionamento com os rapazes durante muito tempo foi tido como um ideal a ser buscado. Isso se dava, porque esses relacionamentos não deveriam objetivar a cópula sexual. Ao invés disso, tinham como finalidade a educação. Isso mesmo: era considerado virtuoso o homem experiente que assumia a guarda de um rapaz, tornando-se seu protetor. Afinal, era vergonhoso a um rapaz ser tachado de “fácil”, “vulgar”, e cabia a um “tutor” a tarefa de ajudá-lo a controlar seus ímpetos. Além do mais o erasta tinha que ser cuidadoso em suas investidas e aparições com o seu amado, para não desonrar a família do erômeno (2793). Com o passar do tempo, o erasta iria ensinar ao erômeno tudo o que sabia, e ambos tornar-se-iam apenas amigos, cúmplices, sendo desnecessário qualquer tipo de relação sexual entre eles (3189).

Contudo, como já mencionado, esse era um comportamento ideal, virtuoso, e não a normalidade. Na minha opinião, aquele monte de “coroas” devia ficar “azarando” os rapazes, e na maioria das vezes não havia reciprocidade. Daí os “coroas” olhavam para o lado, viam-se uns aos outros, e pensavam: “Bem, na falta do tatu, vai tu mesmo”, e devia “rolar a maior pegação”. E isso foi se perpetuando, até chegar nos 186 homens que “curtiram” a foto do Caio. É uma boa hipótese. “Atirar para todos os lados”: esse é o lema.

Esse aprendizado da arte da conquista masculina, também prescrito em manuais, foi criando estratégias específicas de sedução, ou seja, uma espécie de “repertório para conquistas”. Assim, apesar das recomendações textuais sobre a discrição necessária a todo tipo de “galanteio”, é de se supor que, em relação aos rapazes, foi-se permitido mais “ousadia” nas “cantadas” do que em relação às moças. Digo que é uma suposição, pois a prática da corte, ou seja, as estratégias masculinas para a conquista de mulheres, também difundida em textos, só foi desenvolvida na Idade Média (2668). Inversamente, como já exposto, os manuais da Idade Antiga já continham uma série de prescrições da “corte” entre homens.

Contudo, mesmo havendo uma tradição dessa prática masculina, os “papéis” nela “interpretados” possuíam diferentes graus de importância. Basta lembrarmos que o erasta deveria sempre ser o “ativo”, o “viril”, ao passo que ao erômeno caberia a função “passiva”, tanto no sexo quanto na sociedade, o que representava uma condição de inferioridade deste em relação àquele. Os atributos físicos também merecem ser destacados nesse “jogo de poder”. O rapaz (erômeno), desprovido de cultura e bens materiais, deveria ser fisicamente atraente, utilizando-se de práticas esportivas e da caça para estar em plena forma física, o que não era exigido do homem mais velho que tentaria conquistá-lo (erasta). Dessa forma, é bem provável que muitos rapazes vissem na prática da pederastia uma forma de ascender socialmente, caso conseguissem encontrar um bom “tutor”. É possível também que, para alcançar essa ascensão, muitos jovens usassem do seu poder de sedução, que, como dito, estava focado quase que exclusivamente nos atributos do seu corpo.  

Dessa forma, a cultura da exploração da própria sensualidade, por parte dos homens, desenvolveu-se associada ao “papel” do erômeno. Lembra que, apesar de cultuada como objeto de desejo, a beleza corporal não deveria ser desenvolvida em exagero pelo homem “virtuoso”? Lembra que os gregos antigos acreditavam que o excesso de exercícios físicos poderia “adormecer a alma”? Pois bem. Podemos inferir disso que o erômeno (o rapaz) jamais seria um homem “virtuoso”, enquanto explorasse seus dotes físicos como “estratégia social”. E o que é mais grave: belos corpos masculinos estariam daí para frente associados à “passividade”, à ignorância e à pobreza. E nos dias de hoje: o quanto os homens têm explorado sua sensualidade, especialmente em relação ao próprio corpo como “estratégia” de conquista?  

Isso me faz lembrar da primeira vez em que fui “paquerado” por um homem. Eu estava com uns 18 anos de idade, em um evento teatral com performances que envolviam atores e plateia. Em uma delas, um jovem ator muito bonito, vestindo trajes romanos que mostravam grande parte do seu corpo, caminha em minha direção, e para na minha frente olhando-me fixamente nos olhos. Fico extremamente incomodado por estar sendo encarado daquela forma por um homem, sendo tomado por uma grande repulsa. Por ter sido educado a nunca “amarelar” em uma briga, encaro-o com o semblante fechado, deixando claro que eu não queria brincadeira. Ele não se intimida, pega na minha nuca com a mão esquerda, e tenta aproximar nossos rostos. Será que ele iria me beijar? Sinto um mix de emoções: desejo, repulsa, raiva, medo. Minha única reação foi endurecer o pescoço e falar: “Se você não me largar, eu quebro a sua cara!”. Ele continuou a me olhar fixamente, sem expressar qualquer emoção. Por causa da demora em ser atendido, repito a mensagem, agora com mais ímpeto: “Se você não me largar A-GO-RA, eu quebro a sua cara!”.  Ele me solta e volta para o palco, impassível. Sinto alívio, e ao mesmo tempo fico arrependido, por não ter esperado para ver o que aconteceria. Esse sentimento logo vira frustração, por ter perdido a oportunidade de vivenciar uma nova e talvez prazerosa experiência. Como se não bastasse a culpa que me tomou, um homem que acompanhou toda a cena ainda me diz: “O que é isso, cara?! Deixa de ser troglodita. Isso é arte!”. Como que tomado por instinto, todos os meus confusos sentimentos se transformaram em raiva, e ameaço-o: “Tu tá achando ruim? Se tiver eu quebro a sua cara também!”. O homem se assusta, e fica imóvel me olhando de olhos arregalados. Outras pessoas que estavam perto verbalizam seu descontentamento com essa minha atitude. Saio de lá muito confuso. Passar-se-ão quase 20 anos depois disso, para que eu permitisse me colocar como objeto de desejo de outro homem, sentindo-me à vontade com isso, e um episódio foi muito importante nesse sentido.

Eu tocava em uma boate gay de Brasília, e resolvi ir ao banheiro durante o intervalo da banda. Eu já frequentava ambientes como aquele há um tempo. O banheiro lotado funcionava como uma espécie de extensão do salão. Muitos casais de homens “se pegavam” dentro das cabines. Muitos outros conversavam e bebiam animadamente, enquanto urinavam nos mictórios. Fiquei esperando minha vez de urinar em um deles. Quando chega a minha vez, e tiro meu “pau” para fora da calça, preciso fechar os olhos para conseguir urinar. Por que será? Vergonha? Medo? De repente, um homem nada atraente que estava a meu lado diz: “Você tem um belo ‘pau’.” Surpreendentemente para mim mesmo, ao invés de reagir com violência, apenas olho para ele e digo: “Ah… muito obrigado”. Ele não diz mais nada, termina de urinar e sai.

Pode parecer estranho, mas aquela experiência foi extremamente libertadora para mim. É como se, naquela hora, eu estivesse me permitindo vivenciar o que tinha perdido aos 18 anos de idade. Era como se eu pudesse transitar por onde quisesse, sem medo de ser violentado. Pode ser que naquela minha primeira experiência do passado o contato físico do ator tivesse sido muito invasivo para mim. Pode ser também que eu tivesse ficado perturbado com meus próprios sentimentos por ele, pois em verdade eu o desejei. Talvez se o ator de anos atrás fosse um homem que não “fizesse o meu tipo”, eu tivesse aceito a experiência, e, caso ele realmente fosse me beijar, eu conseguiria contê-lo. Será que fiquei com medo de gostar do seu beijo e não conseguir parar? Poderia eu me apaixonar por ele, mesmo tendo sido criado para ser um “macho alfa”? Será, ainda mais profundamente, que eu escolhi o embasamento teórico desse artigo, fundamentado na tradição greco-romana, por causa dos trajes do ator dos meus 18 anos de idade? Eu realmente não sei, e estou muito confuso com tudo isso. Só sei que, depois do dia em que fui elogiado no banheiro, passei a me “soltar” mais, e a adorar “bater papos” em locais como aquele. “E isso te faz sentir menos viril?”, podem perguntar. Jamais! Nunca tive tanta “virilidade” na vida. De igual maneira sinto a minha masculinidade mais forte que nunca: reconheço-me homem, independentemente dos corpos pelos quais sinto desejo. Mas falemos agora sobre as mulheres.

As mulheres

Você se recorda que os textos gregos analisados pelo Foucault foram criados por homens e se direcionavam a homens?  E que nas poucas passagens em que a mulher aparecia ela era submissa a eles? Recorda ainda que um dos maiores insultos a um homem grego era chamá-lo de efeminado? Apesar de ser uma tradição feita por homens, ela atingiu também as mulheres. Primeiramente eu gostaria de analisar o “lugar de fala” delas.

O lugar de fala delas

Vamos imaginar a seguinte situação: você é uma mulher grega da antiguidade, e cresce, sentindo na pele e nos ouvidos, que a sua opinião não importa. Ou melhor: você nem opinião tem, pois, segundo os homens, a mulher não é suficientemente inteligente para isso. Ninguém pergunta o que você acha. E tudo bem. Afinal, seu pai e depois o seu marido cuidarão de tudo para você.

 Até um certo ponto isso vai bem. Contudo, um dia seu pai chega, e te informa que você irá se casar com Fulano de tal. Aquele que você acha horroroso e fedorento. Aí você vira e fala: “Mas pai… logo Fulano de tal?”. Seu pai vira as costas e sai, como se ninguém tivesse falado nada. Ou pode ser assim: alguns séculos mais tarde você escolhe o seu marido e se casa – lembra que no Egito romano as mulheres já podiam escolher seus maridos? Contudo, você vai percebendo que o relacionamento de vocês é injusto, pois seu marido pode ter “casinhos” na rua, e você não. Isso agrava um problema que vocês estão enfrentando na intimidade: quanto mais “casos” ele tem, menos ele “comparece com você na cama”. Mas tudo bem, pois isso é recomendado pelas sábias escrituras: sexo com a esposa só para a procriação. O problema é que seu marido só se lembra dessa parte dos textos, esquecendo-se que o homem virtuoso deve se abster completamente do sexo, a não ser com sua esposa, e apenas com o intuito de perpetuar a espécie. Sua indignação vai crescendo. Ao contrário do que os homens acreditam, você é uma pessoa inteligente, perspicaz, pois, apesar de não ter frequentado formalmente a escola, conviveu com homens, presenciando seus diálogos. Uma vida inteira ouvindo, aprendendo.

Com o passar do tempo, eles veem que você tem habilidades que eles não têm, sem te contarem nada sobre isso. Suas competências enquanto mulher estão voltadas especialmente ao cuidado doméstico. Afinal de contas a casa foi o lugar que você mais ficou na vida. É natural que você a conheça bem.

E a vida vai muito bem: seu marido cuida do sustento material, na rua, e você da administração doméstica. A família toda está feliz com essa parceria. Menos você. Tem algo errado nas suas contas, pois o dinheiro que seu marido ganha no trabalho, não está sendo todo usado com a família. Uma parte dele, uma boa parte dele, está simplesmente sumindo. Duvidando da sua habilidade contábil – pois os homens fazem você se julgar “burra” – você refaz as contas, sempre chegando em um déficit. Muito estranho…

Outro problema é que seu marido cada dia mais se ausenta de casa, e seus filhos cobram a presença dele. Você também sente sua falta. Afinal de contas, ele é um dos únicos homens com quem você convive. Você comenta isso com suas amigas, que a incentivam a não se preocupar: “O meu marido ainda é pior. Ele viaja e fica um tempão fora. O seu pelo menos fica sempre em casa. Deixa de bobagem, menina. Homem bom como o seu nunca mais você arruma”. Mas você não está nada feliz. Agora seu marido chega em casa embriagado, cheirando a perfume barato. Mesmo assim você procura seus carinhos, e ele quase sempre se justifica: “Tô exausto, amor. Amanhã tenho uma reunião importante logo cedo. Boa noite.” Você vai acumulando e reprimindo tudo aquilo. Ao mesmo tempo, você se recorda daquele tio que te ensinava filosofia ao pé da laranjeira aos finais de semana. Bons tempos. Você se lembra também das aulas de retórica que seu pai dava a seu irmão, e associa seu conteúdo aos das aulas do seu tio. Felizmente você teve acesso a uma boa educação. Tão boa quanto a do seu irmão.

Tudo isso vai crescendo dentro de você. Crescendo. Um turbilhão de sentimentos e pensamentos: “Será que ela é bonita? Ou será ele? Como serão os presentes que ela, ou ele, ganha? Mas não pode ser… Plutarco recomenda claramente que o marido só deve amar uma mulher. E se ele não me amar, e amar a outra? O outro? Os outros?”. Até que um dia você explode e “põe as cartas na mesa”: “Olha aqui, José, a ‘parada’ é a seguinte:”. E usando de toda sua habilidade retórica, você blefa: “Tô sabendo que você tem algumas amantes, e alguns amantes também”. E, sem dar tempo para que ele se justifique, ameaça: “Ou você se enquadra, e me respeita como as escrituras mandam, ou eu vou te f… de um jeito que você não imagina! Só eu sei administrar as coisas aqui, ‘sacou’? Sei de cada presentinho que você comprou para as suas ‘piranhas’. A partir de hoje o ‘esquema’ aqui em casa vai ser assim: se você chegar mais uma vez depois das 22h, ou cheirando ‘puteiro’, eu arranco até o último centavo de ti!”. Você sai, batendo a porta do quarto, e vai para o quintal fumar um cigarro, tremendo de raiva, mas de alma lavada.

Pois bem. Deve ter sido mais ou menos isso que aconteceu na antiguidade, o que forçou os homens a serem fiéis. Pelo menos “da boca para fora”. Dessa forma, o casamento foi se consagrando como um bom negócio para o casal, pois ambos ganhavam respeito social. Com o desenvolvimento das leis, muitos desses acordos eram escritos – lembra do Egito romano? Mas o que eu gostaria de registrar é que o casamento foi particularmente lucrativo para a mulher. Como já mencionei, isso possibilitou que ela se desvinculasse da tutela do pai, e posteriormente do próprio marido, devido às suas atribuições específicas e intransferíveis.  Dessa forma, a mulher teria seus direitos civis assegurados em caso de separação. Devolvê-la  ao pai – esse era o nome do divórcio na antiguidade – era vergonhoso não apenas para ela e sua família, mas também para o marido. Isso significava que ele tinha falhado em sua missão de educá-la, faltando-lhe virilidade, comando, ou seja, faltando-lhe o “cuidado de si”. Ele seria sempre visto como um fraco, um perdedor, um “efeminado”.

Você se recorda da pesquisa que comentei lá atrás? A que perguntava: “Qual a experiência de vocês com o Zinder[11]? Algum rolê já deu certo?”. A meu ver, “dar certo” aqui significa ter um relacionamento estável, preferencialmente um casamento. Melhor ainda com filhos. E claro: para isso acontecer, tem que ser com um bom companheiro, um “cara legal” – “virtuoso” talvez?

E quanto ao volume do texto e as frases de efeito das mulheres nos aplicativos de relacionamento? Como explicar também a enorme diferença numérica entre as “curtidas” masculinas e femininas na minha pesquisa? Bem, como eu dizia, o casamento tornou-se uma oportunidade da mulher ter mais controle de si, dependendo menos do homem. Da mesma forma, possibilitou que ela fosse “bem vista” pela sociedade. Assim, é natural que elas buscassem o casamento. Mas e quanto à sua sexualidade? Por que só os homens eram autorizados a terem relações extra conjugais? Lembre que eram diretrizes feitas por homens e para homens. Com raras exceções, é o que ainda vemos acontecer em pleno 2021. Dessa forma, se ainda hoje a sexualidade feminina é um tabu; se em pleno século XXI muitas mulheres nunca chegaram ao orgasmo, imagine no século IV antes de Cristo?

Mas e as prostitutas da antiguidade? Será que não gostavam do seu trabalho? Evidentemente havia exceções à regra. É provável que existissem mulheres “à frente do seu tempo” nesse sentido, como felizmente sempre existiram. Mas, temos que tentar nos colocar no lugar delas, e imaginar o peso da cultura e da sociedade em suas vidas. Creio que a maioria preferisse uma vida estável e segura, a uma de aventuras. Especialmente porque, dependendo do que ela fizesse, isso poderia repercutir no resto da sua vida: “Essa daí é vagabunda. ‘Dá’ para qualquer um. Não serve para casar”. E isso foi sendo passado de geração em geração até hoje. Apenas para nos situarmos, o movimento feminista surgiu em meados do século XX, ao passo que essas mensagens, vindas da Grécia antiga, são repetidas há mais de vinte séculos. É muito tempo! Vou fazer outro parêntese aqui.

Por mais que eu reconheça a importância dos movimentos sociais em prol das pessoas minorizadas, como os feminismos, os movimentos LGBT+, das pessoas pretas, dos povos originários etc., as mudanças levam tempo para acontecer. Sei também que é mais fácil para mim, enquanto homem branco e cisgênero, ter paciência para esperar. Eu só posso imaginar o que uma mulher passa, pois nunca conseguirei sentir isso na pele. Eu costumo brincar, dizendo que elas só querem casar. Digo que muitas até adotam um discurso liberal a respeito da sexualidade, mas que, no fundo, estão em busca de um marido. E acrescento que a grande maioria delas quer um relacionamento estável, duradouro e monogâmico. Um dia desses um amigo disse que esse meu discurso era machista. Mas não é. É histórico. Imagine se eu, enquanto mulher, iria abrir mão de uma conquista como o casamento? Outro detalhe é que foi dentro dele que as mulheres começaram a ensaiar os primeiros passos em busca do seu prazer sexual. Busca essa que ainda está no seu início, como eu já disse. Isso me faz lembrar de uma namorada que tive aos 16 anos de idade. Minha primeira namorada na verdade.

Conhecemo-nos na casa de um amigo em comum que estava visivelmente interessado por ela. Quando a vi passar, pensei: “Nossa! Que mulherão!”. Ela era uma leonina de “parar o trânsito” mesmo, do tipo “gostosona”. Trocamos rápidos flertes àquele dia, e devido à minha grande insegurança e timidez – apesar de parecer o contrário – eu jamais arriscaria dar uma “cantada” nela, julgando-a “muita areia para o meu caminhãozinho”. Uns dias depois, esse nosso amigo em comum, muito a contragosto dele por sinal, me disse que ela tinha me achado “gato”. Pode ser que ela o tivesse cobrado a dar esse recado para mim, e que ele tenha se visto sem saída, pois ele me passou a mensagem com um pesar quase trágico. Logicamente fiquei muito animado, me sentindo “o cara”, e devo ter refletido isso em minha reação: “Sério! Mas… hum… me conta mais! Ela disse mais alguma coisa?”. Talvez com inveja da minha sorte, e na tentativa de boicotar nosso possível futuro relacionamento, ele tratou de emendar: “É, mas… tu tá ‘ligado’ que ela é ‘piranha’, né? ‘Neguinho’ diz que ela ‘dá’ pra qualquer um, que ‘pega’ geral”. Ingenuamente respondi: “Ah… sem problema… podemos só nos divertir, né?”. Parece que meu amigo não esperava essa reação e emudeceu.

Um tempo depois, ele me convida para uma festa na sua casa, dizendo que a “gostosona” tinha pedido. No final da festa ela pergunta: “Caio, você poderia me acompanhar até o meu carro, pois estou com medo de ir sozinha”. Ingenuamente respondi que sim. Sem prever o que aconteceria, segui-a tranquilamente, e assim que fechei a porta do apartamento, aconteceu algo inesperado: ela me pegou pela gola da camisa, e me jogou com força contra a parede. Acho que você imagina o que aconteceu depois, né? Contudo, pode ser que você não tenha imaginado que começamos a namorar logo em seguida, noivamos uns anos depois, e quase nos casamos.

Pois é. Convivendo muito com ela, rapidamente percebi que não se tratava daquela “piranha” de quem meu amigo falava. Ela me contou também que ele a assediava muito, chegando a ser inconveniente, o que fez todo sentido para mim, pois lembrei que ele estava muito interessado nela quando nos conhecemos. Mas então o meu amigo inventou toda aquela história? Não. Toda a história não. Ela realmente “pegava geral”, e era uma mulher de muita iniciativa. Contudo, ela disse que procurava um cara legal para se relacionar, mas que estava difícil encontrar. Fiquei super lisonjeado ao ouvir isso, principalmente porque ela me pediu em namoro, invertendo a ordem “comum” da heteronormatividade, onde o homem toma a iniciativa.

Com essa namorada percebi como é difícil explorar a própria sexualidade, sendo uma mulher atraente, e como isso pode assustar os homens – lembra que assim que a vi, julguei-a “muita areia para o meu caminhãozinho”? Percebi também que, apesar dela estar procurando “um cara” para se relacionar, ela se permitiu vivenciar uma série de trocas sexuais, e que certamente guardava boas e más lembranças delas. Lembro ainda que em muitos momentos ela tinha uma “energia” de dominação muito parecida com a masculina. Era uma espécie de “virilidade”, refletida em comportamentos como aquele na saída da festa, em que ela me jogou contra a parede. Eu adorava quando ela agia daquela forma, e ainda adoro quando alguma mulher me trata assim. Estaria eu invertendo “papéis de gênero” relacionados à arte da conquista?  Seria eu efeminado por isso? Com certeza, e não tenho nenhum problema a esse respeito. Permito-me transitar entre as “polaridades” masculina e feminina tranquilamente. Podem falar o que quiser.  

Estou lembrando agora de outra namorada dizendo que eu tinha “jeito de viado”. Nunca entendi isso, mas creio se tratar dessa “energia feminina” muito presente em mim. Tão presente, que um antigo terapeuta recomendou que eu “exercitasse mais a minha masculinidade” – isso é sério?! Veja que não foi um padre ou pastor evangélico que me aconselhou, mas um analista junguiano. O mesmo analista que ficou escandalizado, quando eu disse que uma namorada minha teve um relacionamento com uma travesti: “Um relacionamento? Você quer dizer que eles ‘ficaram’ mais de uma vez?”, ele perguntou como se isso fosse patológico. Comportamentos como esse me preocupam. Estaria havendo um avanço moralista partindo dos consultórios terapêuticos? Essa tendência, caso exista, alcançaria também os crescentes grupos de masculinidade brasileiros? Não sei, e isso é um assunto para outra hora.   

Ah! E antes que alguém reclame, é claro que essa história toda que contei até agora refere-se apenas às sociedades ocidentais. Eu sei que sempre houve sociedades não ocidentais em que a mulher exerce papel de comando, e onde sua sexualidade é tanto reconhecida quanto valorizada. Sociedades em que as mulheres podem se relacionar com quantos homens quiserem. Infelizmente, essas culturas estão distantes, e só agora estão sendo absorvidas por nós. Portanto, via de regra, ainda é difícil fugirmos desses comportamentos até aqui descritos. Voltemos às questões das frases de efeito das mulheres (“Não busco nada casual”, “Procuro relacionamento sério” etc.), e da diferença numérica entre as “curtidas” masculinas e femininas.

Como eu dizia, aos homens, desde a antiguidade, o exercício da “arte da conquista” não foi apenas permitido, mas motivado. As mulheres, ao contrário, não tinham direito sequer de dar sua opinião em assuntos masculinos, que dirá exercitar seu poder de sedução: “Aí, meninas, que tal darmos uma passada no ginásio para ‘azarar gatinhes’?” Só que não. Elas não tiveram a chance de testar relacionamentos, testar o sexo, se aventurar. Ao invés disso, tiveram que desenvolver uma capacidade de avaliação através da observação e das conversas entre si. Elas não podiam ficar de “papo furado” com a rapaziada, pois não “pegava bem”. Assim, quando elas já podiam opinar, sobre com quem queriam se casar, certamente já tinham avaliado o pretendente de todas as formas que podiam. Não dava para saber se o cara beijava bem, se “rolava química”, se ele “fazia gostosinho”.

Quando a “mulherada” viu o meu perfil no aplicativo, deve ter pensado alguma coisa do tipo: “Nossa! Que cara que ‘se acha’! Deve ser gay. Tem cara de gay. Hum… Mas não diz nada sobre sua orientação sexual aqui. Então, se ele apareceu pra mim, deve ser bi. É… acho que é bi. Pra ter esse corpo, ele deve viver na academia. Não deve ser muito inteligente. Hum… Doutorado em gênero e sexualidade… Universidade Nova de Lisboa…Vixe! É ‘galinha’! Um intelectual com um corpo assim só pode ser fútil. Deve estar atrás de ‘putaria’. Não quer nada sério.  Nope”.

As poucas que me “curtiram” devem ter pensado a mesma coisa. A diferença foi que elas decidiram se arriscar, talvez por causa da sua personalidade: “Se der match, vamos ver o que ‘rola’. O cara é culto, né? Deve ser ‘bom de papo’. Quem sabe dá certo?”. Outro aspecto muito interessante que gostaria de analisar é a diferença da consciência de si entre homens e mulheres.

Consciência de si e diferença numérica

 12% das mulheres que me deram like faziam o meu “tipo”, contra 11% dos homens. Páreo duro, né? Nem tanto. A amostra de mulheres foi muito menor que a de homens, ou seja, elas demonstraram ser mais conscientes e  seletivas do que eles. Como assim?

Os homens que me “curtiram” deviam estar em uma “avalanche de likes”. Quando o meu perfil chegou até eles, já saíram “curtindo” e indo para o próximo. Nem devem ter olhado outras fotos minhas, que dirá lido o meu texto. As mulheres, ao contrário, historicamente observadoras, devem ter pensado aquilo que acabei de dizer: “Nossa! Que cara que ‘se acha’! Deve ser gay…etc”. As que me deram like devem ter levantado do sofá, olhado-se no espelho, comparado suas fotos com as minhas e percebido que havia “compatibilidade estética”. Farei um adendo aqui em relação aos homens hétero, pois não fui “curtido” por eles.

Isso se deu pelo fato do aplicativo de relacionamentos que usei selecionar as pessoas mostradas de acordo com o perfil. Assim, um homem que defina sua orientação sexual como “heterossexual”, não visualiza outros homens, apenas mulheres. Portanto, todos os homens que me deram like não são heterossexuais, o que é importante ser dito.

Para mim, os homens hétero têm muito menos consciência de si do que as mulheres. E não estou me referindo ao lado emocional. Falo de estética mesmo. Basta perguntar a qualquer homem hétero da sua convivência que seja desleixado com o corpo qual o padrão de mulher que ele acredita merecer: “Gata e gostosa. Mulher é diferente de homem. Elas não valorizam o corpo como nós. Mulher gosta é de segurança, de um bom ‘papo’, de ‘caras’ que têm conteúdo, e não de ‘corpinhos’ bonitos”. É o que eles costumam dizer. Contudo, o que eu realmente acredito é que elas querem o melhor dos “dois mundos”, ou seja, homens “gatos” e “gostosos”, e ao mesmo tempo estáveis financeiramente, que saibam, e gostem de conversar, e que sejam inteligentes e divertidos. Porém devido à grande escassez desse tipo de pessoa, elas se contentam com homens que sejam apenas “legais”, abrindo mão do “corpinho” bonito.

Isso é problemático, pois pode criar uma ilusão no imaginário masculino de que as mulheres não ligam para a aparência física. A prova de que elas se importam com o corpo está na frequência com que vão a salões de beleza, clínicas de estética, lojas de roupas, academias de ginástica e perfumarias. Isso sem falar nas cirurgias plásticas. Para mim, homens que creem que as mulheres não ligam para a beleza física estão tão habituados a verem-nas arrumadas, que acabam não se dando conta de toda a logística necessária para que elas se mantenham assim. E o que é pior: não percebem que também precisam adotar comportamentos parecidos, pois as mulheres gostam disso.

Sempre vejo muitos “coroas” se gabando de terem namoradas bem mais novas do que eles. Não vejo problema com isso. O problema para mim está na sua argumentação quanto aos motivos delas estarem nesses relacionamentos, como mencionei um pouco antes: “Mulher gosta é de segurança, de um bom ‘papo’, de ‘caras’ que têm conteúdo, e não de ‘corpinhos’ bonitos”. O que percebi na minha pesquisa foi justamente o contrário.  

Mas e os homens gays? Também se comportam assim? Não. Com eles é diferente. A meu ver, a antiga prática da pederastia motivou a construção da vaidade desses homens. Lembra que muitos rapazes da Grécia antiga consideravam essa prática como uma  oportunidade de ascensão social, e que muitos deles desenvolveram estratégias de sedução focadas na beleza dos seus corpos? Lembra ainda que os erastas deveriam constantemente dar presentes a esses rapazes, cercando-os de cuidados? Pois bem. Penso que a pederastia tornou os homens gays tão ou mais vaidosos que as mulheres, independentemente de idade ou classe social. Hoje em dia, caso adotem algum visual mais “despojado”, fazem isso por opção, e não por desleixo. Prova disso são os bem cuidados pelos e barbas dos bears[12]. Creio também que, assim como as mulheres, eles desenvolveram muita consciência de si em relação ao próprio corpo. Muitos “coroas” gays amigos meus adoram “pegar” rapazes, mas têm plena consciência das “moedas de troca” desses relacionamentos: “O que você acha que um ‘gatinho’ de vinte e poucos anos vê num ‘cara’ como eu? Meu ‘corpinho’? Meu ‘papo’? Claro que não. O que eles gostam mesmo é dos presentes que eu dou, dos restaurantes que frequentamos, das viagens que fazemos. E pra mim tá tudo claro, tudo certo”. É o que muitos me contam. Evidentemente que há homens hétero com essa consciência, mas ainda sinto que são uma minoria. Graças aos antigos manuais de conduta, os homens gays foram motivados a serem assim.  O que não significa que sejam seletivos, pois na minha pesquisa não foram.

Nela, as mulheres se mostraram mais seletivas que os homens, além de mais eficazes, pois, do ponto de vista físico, me atraíram mais do que eles proporcionalmente falando. Também é relevante o fato delas terem rompido a barreira de não se relacionarem com homens que exibem o próprio corpo. Apesar de muito provavelmente terem hesitado em me dar like, elas exploraram sua sexualidade, abrindo-se a um possível relacionamento com um “homem-objeto. Além do mais, o tipo de fotos que postei são comuns em perfis de homens gays, ou seja, as mulheres me “curtiram”, mesmo com o risco da minha orientação sexual ser bi, pan etc. Assim, primeiramente focaram em seus desejos físicos, “objetificando-me”, ao invés do tradicional foco em aspectos como estabilidade, companheirismo etc.         

Para encaminharmos para o fim, vou relembrar algumas características dos perfis de homens hétero em aplicativos de relacionamento. Eu disse que eles eram ainda mais discretos que os homens gays, e que isso podia ser notado nas fotos, que mostravam seus rostos e corpos vestidos. Disse ainda que, em seus textos de apresentação, também conhecidos como bio, muitos escreviam sobre si e sobre suas preferências, e que eram raros os conteúdos de cunho sexual. Assim, eram perfis muito parecidos com os das mulheres. Será que eles faziam isso apenas para atraí-las? Será que, assim como elas, também buscavam relacionamentos estáveis? Ou será que temiam ser taxados de vulgares, medíocres, que apenas dispunham do próprio corpo como atrativo, exatamente como acontecia na prática da pederastia da Grécia antiga? Acho que um pouco de tudo isso, especialmente o medo de serem estigmatizados, pois, assim como acontecia na Idade Antiga, a cultura da virtude desenvolveu paralelemente a cultura da vergonha. Dessa forma, observei que a maioria dos homensheterossexuais que estavam no aplicativo de relacionamento utilizado por mim ainda tinham medo de explorar a sua sensualidade através de imagens do próprio corpo.       

Finalmente, gostaria de descrever algumas sugestões dadas pelo CEO de um aplicativo de relacionamentos famoso, para a montagem de um perfil masculino (heterossexual) nesse aplicativo:

Não tire a camisa (…) a última coisa que você quer que elas pensem é que você é egocêntrico ou narcisista demais para manter uma conversa. Seja genuíno. Seja você mesmo! Suas fotos devem refletir sua personalidade, hobbies e interesses (…). Fotos em ação são boas para iniciar boas conversas. Esses tipos de fotos facilitam que as pessoas saibam mais sobre você e permitem iniciar uma conversa relevante. Além do mais, elas mostram seu lado aventureiro. Fotos de pontos turísticos ajudam também – pode-se descobrir muito sobre alguém conversando sobre viagens (…). Sempre escreva algo. Nunca fuja da sua bio – em 99% das vezes as garotas tendem a não te curtir se você não informar alguma coisa sobre si (…). Mantenha-se focado. Tente parecer doce. Inclua um ou dois hobbies, um programa de TV favorito, o tipo de pessoa que você gosta de conhecer ou um fato engraçado (…). Não exagere (…). Não seja chato. Se a sua primeira mensagem é apenas um “Oi”, você tem poucas chances de obter uma resposta (…). Envolva-se com as pessoas. Diga algo que mostre que você leu a bio delas e olhou suas fotos (…). Não pense demais. No final do dia é realmente simples: seja amigável e respeitoso. Faça-as rir, e verdadeiramente mostre interesse em aprender mais sobre elas.  

É. Parece que eu não segui o manual, fazendo questão de me colocar como um simples objeto de desejo de homens e mulheres. Um fetiche. E nessa condição promovi, de todas as formas que sabia, meu corpo e minhas qualidades intelectuais a fim de chamar a atenção.  E parece que consegui, pois as pessoas manifestaram o interesse por mim através de suas “curtidas”. Elas agiram, sendo “ativas” e “viris”. Você se recorda que eu disse que a grande diferença da Idade Antiga para os dias de hoje, em relação à forma de “paquerar”, é que naquela época os homens precisavam ir fisicamente aos locais de “paquera”, e que hoje isso não era mais necessário devido aos aplicativos de relacionamento? Pois bem. A grande diferença é que esses locais hoje também pertencem às mulheres. Essas dicas de um CEO, tiradas de um site da internet, não parecem com os antigos manuais de conduta da Grécia antiga? Com certeza, mas que estão se mostrando obsoletos, em face da diversidade de gostos e demandas da atualidade. Quer dizer então que os homens continuam aconselhando uns aos outros sobre os mesmos assuntos da antiguidade? É o que parece. Porém, a grande diferença é o papel da mulher nessa história. Elas têm demonstrado cada dia mais que estão fartas da passividade a que foram submetidas por tanto tempo, onde eram obrigadas a não tomar a iniciativa para não serem mal vistas. A minha antiga namorada da adolescência e tantas outras mulheres que permitem experimentar a própria sexualidade corajosamente são prova viva disso. Creio que a partir de meados do século passado nossa sociedade esteja um pouco mais aberta para reconhecer a diversidade e a liberdade sexual, o que tem permitido que as mulheres possam “ousar” mais. Ainda não tanto quanto os homens, é claro. Espero que essa diferença seja corrigida o mais breve possível, para que mais e mais mulheres assediem homens “objetificáveis” como eu.

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Referências bibliográficas

Foucault, Michel, 2014a. A história da sexualidade: o cuidado de si (vol. 3). Tradução Maria Thereza Costa Albuquerque. Paz e Terra. Kindle Edition. 

Foucault, Michel, 2014b. A história da sexualidade: o uso dos prazeres (vol. 2). Tradução Maria Thereza Costa Albuquerque. Paz e Terra. Kindle Edition. 


[1] Professor e pesquisador do Instituto de Etnomusicologia, centro de estudos em Música e Dança (INET-md) da Universidade Nova de Lisboa.

[2]“Então, é chamado de biscoiteiro ou biscoiteira aquela pessoa que quer chamar atenção, seja postando selfies ou textos polêmicos. Dizer que uma pessoa quer biscoito significa que ela faz qualquer coisa na internet apenas para receber elogios”. Disponível em https://www.dicionariopopular.com/dar-biscoito-biscoiteiro/. Acessado em 04 de abril de 2021.

[3] “Sugar Baby é um termo para definir pessoas jovens, em sua maioria mulheres, que buscam um relacionamento com pessoas mais velhas e bem sucedidas que as possibilitem conhecer o melhor do mundo, através de viagens, presentes, ajudas profissionais e mentoria”. Disponível em https://www.meupatrocinio.com/o-que-e-sugar-baby/. Acessado em 04 de abril de 2021.

[4]Match é uma palavra em inglês que pode significar ‘combinação’, então a expressão ‘dar match’ seria o mesmo que combinar, formar um bom par com alguém. O termo se popularizou por causa do aplicativo de encontros “Tinder”. Dar match no Tinder significa que as duas pessoas gostaram uma da outra”. Disponível em https://www.dicionariopopular.com/dar-match-tinder/#:~:text=Match%20%C3%A9%20uma%20palavra%20em,pessoas%20gostaram%20uma%20da%20outra. Acessado em 04 de abril de 2021.

[5] Disponível em https://www.buzzfeed.com/eugeneyang/mens-standards-of-beauty-around-the-world#.rxD29awlw. Acessado em 04 de abril de 2021.

[6] Idem, ibidem

[7] Ver o Movimento Body Positive. Disponível em https://vogue.globo.com/Vogue-Gente/noticia/2019/09/body-positive-o-que-nunca-te-contaram-sobre-o-movimento-o-padrao-hoje-e-ser-diferente.html. Acessado em 04 de abril de 2021.

[8] Bio é a abreviação de “Biografia” e corresponde ao espaço do perfil onde pode-se inserir informações sobre si.

[9] Disponível em https://www.instagram.com/p/CKaK0J2gYDK/?igshid=142d3d06f7huc. Acessado em 04 de abril de 2021.

[10] Nome fictício

[11] Nome fictício

[12] Urso é uma subcultura da comunidade gay. Tendem a ter corpo peludo e barba. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Urso_(cultura_gay). Acessado em 20 de abril de 2021.

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Observador
Observador
2 anos atrás

Nunca fui a Salvador, mas Floripa e João Pessoa tem em comum, via de regra, a sedução pela sunga, em relação aos homens como “alvo” da paquera. Quer eles buscam “oferecer” as nádegas ou pênis! O peitoral masculino, nos dias atuais é buscado mais por homens jovens em relação aos maduros. Sou “cinquentão” e mesmo um vizinho tendo companheira estilo “Fafa”, reparou minha polo com mamilos marcando a camisa! Ela claro, bufou, quando sai do elevador e ele soltou “até amanhã”! E atualmente, com cisgeneros “indo a luta”, até garcon me paquerou “rusticamente”, meio a distancia, com jogo de pernas (uma mais a frente) sugerindo querer receber oral! Já em João Pessoa, há 3 anos, homens afeiçoados paqueravam sorrindo até aquele que descia para a praia, me olhando, de lado, com penis com certa ereção e minha contemplação! Fui até conversar com ele e falamos disso, da nossa sintonia e ele até disse que mesmo eu com camisa, soltava charme, com o discreto vão entre os mamilos com certa suculencia! Ele beirava os 40 anos! Comentou que depois dos 30 anos, foi reparando mais no bumbum masculino e comentei minha tese, que se ele fosse Bissexual o limite, “estabelecido”: passar dos 30 anos, como que se quisesse ser pai e não foi ou tivesse sido, o acasalamento (Sem ser pejorativo) passou a ser no homem! Nunca busquei ser penetrado, mas também, nunca fui assexualizado, quando buscaram me namorar ou relação fluida, deixei o cara “avançar”, mas somente quem eu conhecia há mais tempo!

Caio Mourão
Caio Mourão
2 anos atrás
Reply to  Observador

Que legal a sua partilha! Fiquei super excitado! Adoro casos de pessoas que se permitem flertar, biscoitar, seduzir, jogar sem receio de serem censuradas. Sensualizemos, pois! Um grande abraço!

Observador
Observador
1 ano atrás
Reply to  Caio Mourão

Obrigado, querido! Tem sites que até comentam sobre a “velhice gay” de forma a se vitimizar e comentários como o que fiz acima é como “censurado” como se o homem depois dos 50 ou 60 anos, não pudesse ter seu glamour! Diria que alguns “ajustes” se fazem necessários, ainda mais intragerações! Em 2018, um colega começou a buscar aproximação, inicialmente por coleguismo, até que por compartilharmos banheiro, mesmo sendo setores diferentes, viemos a ter romance e ele mesmo nos seus 35 anos, disse que vinha “me desejando”, queria experiência bi/homo, depois de ter tido a prole! Por eu estar com 52 anos, o “test drive”, primeira transa, fizemos “deitado”, depois então sugeri, eu sentar nele e, ai o “x” da questão, o que um homem maduro poderia se vitimizar, eu tranquilo sugeri e ele viu o lado positivo de ficarmos abraçadinhos, trocarmos mais caricias! Por ele ser casado e eu finalizando carreira, no final do “romance” elogiou aquele ano que tivemos e, que satisfez muito ele, mais que as penetrações vaginais que havia feito, também! E quanta “polêmica” é trazida sobre o gênero na questão sexual, como se dois homens cisgeneros, Não se excitassem mutuamente!

Caio
Caio
1 ano atrás
Reply to  Observador

Aho! É maravilhosa a forma como vc partilha a sua intimidade. Sinto-me lisonjeado. Gratidão! Atualmente moro em Lisboa. Aqui as pessoas são ainda mais “travadas” que no Brasil, no quesito sexualidade. Estou a fim de alguns caras com quem tenho convivência, mas tenho que ser muito observador e paciente, para evitar uma investida e um possível rompimento precoces. Continuemos trocando, meu amigo. Um beijo.

Observador
Observador
1 ano atrás
Reply to  Caio

Deixei de participar de um site português porque um nativo disse que meus comentários “confundiam” eles! Mas penso pelos textos escritos lá, que existe muita espera que os políticos tenham iniciativa pela maior inserção dos bissexuais e homossexuais! No Brasil, mesmo nos tempos da Ditadura a sexualidade fluida acontecia, sem qualquer preocupação do tipo “será que me mantenho hetero” ou “quem sabe não chegar ao climax da penetracao anal”! Quanto a sua “questão”, digo que quando a gente sente atração, fisiologicamente, a outra pessoa tem uma reação “complementar” o tal do feronomio, sendo assim Não adianta insistir em paquerar, se não houver feedback dele! Deixemos fluir ai o gozo espontâneo! Beijo!