Nossa primeira entrevista foi com o Conselho Diretor do Homens em Conexão, nessa ocasião representado por Fábio Barros, Fernando Aguiar, Leonardo Figueiredo, Paolo Chirola e Paulo Amorim, mas com ausência de Virgílio Andrade e Rafael Gonçalves. Nessa entrevista, eles nos contam como surgiu o Homens em Conexão, falam sobre a importância do trabalho que realizam e de sua missão em construir um espaço de de confiança, força e amorosidade masculina.
Por Mateus Rodrigues
Por que e como foi a criação dos Homens em Conexão?
Paolo – A Casa dos Homens já estava trabalhando com homens há alguns anos, mas nós sentimos a vontade de estender o trabalho para abranger horizontalmente outros homens, sem necessariamente criar um grupo terapêutico. Aí tivemos a ideia de usar o documentário do Netflix The Mask You Live In como uma maneira de promover uma noite de cinema e depois fazer um debate. Nesse dia foram muitos homens e a conversa foi bem empolgante, as pessoas se sentiram tocadas pelo documentário e pelo clima do grupo. Então daí nasceu já a ideia de dar uma continuidade com ações mais horizontais e não necessariamente terapêuticas ou com grupos fixos.
Fernando – Disso surgiu a ideia de criar um grupo de Whatsapp para continuarmos a discussão daquele dia. E assim foi feito, o Paolo criou o grupo e o nome “Homens em Conexão” apareceu a partir da conversa. Bem, um tempo depois, quando eu fui para Austrália em outubro de 2017, eu mandei uma foto do Menergy – um retiro de três dias para homens – e o Fábio fez a provocação de fazermos um aqui. E quando eu cheguei, eu fiz essa mesma provocação pro grupo e foi quando decidimos que iríamos fazer mesmo um evento desse tipo.
Leonardo – A gente fechou a nossa comissão com nós 7 mais o Cadu [Carlos Eduardo Paes Landim] e o Ebert [Duran]. Aí nós já pensamos em fazer logo um grande encontro, mas em outra reunião vimos que era melhor a gente fazer primeiro um encontro menor. Nisso alguém deu a ideia de chamar os outros grupos de homens e foi assim que fizemos o primeiro encontrinho, nessa perspectiva de trazer os outros grupos que já existiam. Foi um sucesso e teve uma repercussão muito grande!
Fábio – O primeiro encontrinho foi muito forte pra mim, eu terminei o dia em êxtase, não só pelo evento ter sido realizado mas pela força amorosa que rolou ali. Foi uma identificação e uma sinergia muito grande, desde o começo, eu senti como se todo mundo tivesse esperando aquele momento e ele finalmente tivesse acontecido.
Qual a importância que vocês vêem de se ter hoje um espaço de confiança, força e amorosidade masculina entre os homens?
Leonardo – Eu escuto muito dos homens que até então eles não tinham um espaço de confiança para poderem se abrir e falarem de si mesmos ou pra ouvir outro homem que tem a mesma dificuldade que eles. E percebendo o acolhimento que se tem, é possível até ter uma outra perspectiva de vida, em que eu posso falar da minha dor e ver que outros homens também sentem a mesma dor, a mesma solidão ou o que quer que seja.
Isso tá bem dentro do que a gente tem como missão, que não é só formar os grupos, mas promover encontros e ir aos poucos reformulando nossa masculinidade. É a partir desses encontros que a gente pode se expressar mais, a gente pode falar mais, a gente pode sentir, se tornar presente na nossa própria vida e na das pessoas à nossa volta com mais humanidade e com mais amorosidade, exigindo menos da gente. Então esse espaço de confiança e acolhimento nos permite, enquanto homens, ir à frente e ter uma real expressão de nós mesmos.
Fábio – Esses são espaços de libertação para o homem, nesses espaços eu falei coisas que eu nunca tinha contado na vida e que eu só senti confiança de falar ali. É onde eu me revelo, onde eu posso falar de mim, falar do que eu sinto, e não só das coisas ruins, mas também das coisas boas, das minhas vitórias. Foi aí que eu fui aprendendo a poder expressar minha sensibilidade, a minha humanidade, a ser mais humano. E é também um espaço de exercitar o cuidado, afinal, ali os homens estão sendo cuidados e estão cuidando um dos outros.
Eu nunca recebi tantos cuidados de homens como eu recebi ali. Foi perceber que eu também posso cuidar e receber cuidado de outros homens! Além disso, eu vi nesses espaços confidências muito fortes, coisas que eu teria muita vergonha de dizer, mas ouvindo aqueles homens e senti uma coragem muito grande pra poder assumir as minhas dificuldades de uma outra perspectiva.
Paolo – Eu quero acrescentar que é esse o espaço que vem para ajudar os homens a sair do silêncio, daquele silêncio de que fala o documentário O Silêncio dos Homens. E os homens saem do silêncio quando tem um espaço de amor, de confiança, de encontros, etc.
Que silêncio é esse que homens têm?
Paolo – Eu diria que é um silêncio de séculos de distanciamento dos sentimentos, do sentir, do expressar, do ter que aguentar ou de ter que levar adiante a todo custo, de ter que ser forte, de ter que ser viril e “comer” muitas mulheres, enfim, de “ter que”. Acho que tem um peso nesse “ter que”, ocupar esse lugar de homem que é muito pesado e, com isso, os homens foram construindo oralmente um pacto de silêncio onde não se fala das fragilidades, não se fala dos problema íntimos, das falhas; e eu acho que nós estamos em um momento da história em que os homens começam a questionar isso.
Como a gente já falou muitas vezes, isso aconteceu muito a partir do movimento das mulheres, que como sempre estão alguns passos à frente. Então esse movimento feminino fez com que nós percebêssemos que chegamos num ponto de crise, e os homens agora estão começando a também olhar para todo o sofrimento que eles carregam.
Fernando – Eu acho que esse espaço de força, amorosidade e confiança nos ajuda a resgatar nossa força positiva e nossa amorosidade. Porque isso diz muito sobre esse silêncio dos homens: nós não nos deixamos criar esse espaço entre nós! Como é esse amor e esse cuidado vindo de homens? Porque é como se eu não pudesse amar homens, tem alguns homens que eu até posso confiar, mas é quase como seu eu confiasse desconfiando, porque eles vão me sacanear… eu confio mas pode vir uma sacanagem. Me lembro de quando eu era menino e ia dormir na casa de um amigo, quem dormia primeiro levava uma pasta de dente na cara, era uma tensão da porra.
Paolo – Tem um problema que a geração mais nova sofre que é um pouco o inverso do que se escuta. Muitos homens associam a força unicamente à violência, à opressão, ao machismo… tudo isso que a gente realmente carrega querendo ou não. Porém na hora que em que a gente nega essa força porque ela tá na sua distorção, nós estamos negando uma qualidade importante do ser homem. E esse é outro silêncio, não é só o silêncio do sentir mas também aquele de não poder expressar a sua própria força, que é a nossa potência de se colocar no mundo, de usar a energia positivamente! Acho que essa é outra dor muito importante ligada ao silêncio dos homens.
Muitos homens hoje passam por uma crise de identidade e não querem mais assumir os antigos padrões de masculinidade, mas tampouco sabem onde se referenciar. Como os homens em conexão ajudam nessa questão?
Paolo – A gente já falou muito sobre isso né, porque esse espaço de amorosidade, de confiança e de força é a base para que todos os homens, independente de qualquer coisa, se sintam parte, e isso é transformador por si só. O pertencer, o sentir que você pertence, que tem vínculo independentemente de sua condição é maravilhoso, acho que isso é curador e transformador.
Fábio – O grande legado desse movimento é que todas as manifestações de masculino são legítimas, não tem certo e não tem errado, mas claro, sempre dentro de uma perspectiva do que é saudável. Eu acho que no meu caso eu não fiquei procurando padrões, eu não preciso seguir um modelo, eu encontrei o homem que quero ser dentro de mim mesmo. E eu me senti pertencente àquele grupo de homens sem precisar me enquadrar em nada, em nenhum esquema, em nenhuma religião, eu só precisava ser eu mesmo.
Paulo – Eu diria que temos de sair da fase da criança que fica buscando a todo instante referências – que quer um modelo pra seguir – para o homem que se expressa da forma que ele quer: seja pintar a unha de preto ou usar um brinco, seja malhar e ficar hipertrofiado, seja o que for. Então tem essa coisa do amadurecimento da expressão do homem.
O que vocês teriam a dizer a um homem que nunca participou de nada parecido?
Fábio – Se fosse a há 10 ou 15 anos atrás eu não teria participado de nada disso. Eu veria com muita desconfiança, porque eu era muito fechado para esse tipo de proposta. Então eu entendo muito bem a desconfiança que esses homens têm a partir da minha própria experiência. Mas o que eu diria para eles é: experimente! Experimente entrar nesse espaço, ouvir as histórias que os homens têm a contar e a se indagar sobre o que essas histórias dizem sobre você também!
Paulo – Acho que eu faria um questionamento: o que você procura? Tá a fim de se encontrar, de buscar seu interior, sua inteireza? Esses são lugares que a gente tem pra olhar um pouco pra isso… Bem-vindo!
Saiba mais sobre a história, o propósito e as ações do Homens em Conexão
Eu já disse em várias rodas de partilha de grupos de homens mas faço questão de reafirmar. Em quase 50 anos de vida, a primeira vez que me senti realmente um HOMEM foi no 1º Encontrão. Gratidão eterna !
Cara q maravilhoso! Descobri que existiam grupos de homens pra conversar sobre masculinidade a uns 3 dias e de lá pra cá a minha vida mudou de cabeça pra baixo. Essas conversas tem q expandir, tem q estar em todas as plataformas possíveis, exercer e conversar sobre uma masculinidade saudável é necessária. Não parem nunca, não desanimem e muito obrigado por estarem fazendo a diferença hj por um lugar melhor no mundo pra se viver.
Sempre fui de ouvir, ajudar e, tanto homens quanto mulheres! Paradoxalmente as mulheres se mostraram racionais, via de regra e, quando disse isso a um amigo ele disse tens feminilidade e, ai vai além da competitividade tão em voga no Mercado de Trabalho, mas na libido que nos desperta! Porque barzinho e futebol entre amigos elas sempre estão atentas?: inicio marido ou namorado pedia autorização, depois elas “infiltradas” como comentarista ou bandeirinha das partidas oficiais! E como ponderou, maroto, um vendedor de loja de vestuário masculino, a namorada dele nem imaginaria que um cliente como eu: abdomem acentuado, escoliose, desperte atração dele pela discreta bunda e pernas, finalizando rindo, que não estava me cantando!